SBP Sociedade Brasileira de Psicologia

A expansão da psicologia perinatal no Brasil

Este é o primeiro trabalho a ser publicada referente essa temática. Há profissionais atuando nessa área e se autodenominando como psicólogo perinatal, entretanto, ainda não há artigos científicos relatando a sua história e nem definindo o campo de atuação desse profissional. Portanto, pretende-se com este texto publicar pela primeira vez o relato da história, campo de atuação e definição do que é a Psicologia Perinatal.

Psicologia Perinatal é uma área de atuação e de produção de conhecimento referentes às questões da perinatalidade e da parentalidade. Preocupa-se em conhecer os fenômenos psicológicos que estão em torno do nascimento como o planejamento familiar, luto perinatal, gravidez, parto e pós-parto, bem como dispõem de técnicas para prevenção de alterações emocionais significativas próprias desse período, como a ansiedade, estresse e depressão. O psicólogo perinatal pode atuar em hospitais, maternidades, centros de saúde e na clínica, o atendimento pode ser individual ou grupal.

O termo psicologia perinatal, não é o único utilizado para indicar o trabalho de profissionais da psicologia que atuam na perinatalidade e na transição para a parentalidade. Alguns profissionais usam também os termos: Psicologia Obstétrica; Psicologia da Maternidade; Psicologia da Gravidez, parto e puerpério, entretanto, o termo mais utilizado nos últimos tempos é Psicologia Perinatal.

Essa área de atuação do psicólogo ganhou visibilidade no país com a publicação da dissertação de mestrado de Maria Tereza Maldonado, intitulada “Psicologia da Gravidez, parto e puerpério” considerada pioneira na área, no final da década de 70. Na mesma época, iniciaram-se as traduções dos livros “Psicologia da Gravidez, Parto e Puerpério” de Raquel Soifer; “Maternidade e Sexo” de Marie Langer; “Gravidez a história interior” de Joan Raphael-Leff. Na década de 90, o livro “Nove meses na vida da mulher” de Mirian Szejer e Richard Stewart. Além da literatura produzida, na academia também temos a Profª. Ma. Fátima Ferreira Bortoletti, na década de 80 que começou a utilizar o Termo Psicologia Obstétrica e organizou os primeiros cursos nessa área para psicólogos. No final da década de 90 iniciou-se uma discussão por um parto e nascimento mais humanizado, pois o Brasil sofreu e ainda sofre com as altas taxas de cirurgia cesariana, e relatos de violência obstétrica e tal movimento leva a Profª Drª. Vera Iaconelli a criar o Instituto Gerar: escola de pais, para levar informações referentes à gestação, parto e pós-parto para pai e mães. Iaconelli também ministra os primeiros cursos de Formação Livre em Psicologia do ciclo gravídico-puerperal realizado no Brasil.

Por volta de 2007 e desde então, Iaconelli nomeia essa área de Psicologia Perinatal e esse termo começa a ser usado com maior frequência por psicólogos. Hoje ainda são poucos os psicólogos que atuam na Psicologia Perinatal, entretanto, é possível observar seus avanços como a utilização da técnica de Pré-Natal Psicológico. Essa técnica foi criada por Fátima Bortoletti (Bortoletti, Moron, Bortoletti Filho, Nakamura, Santana, & Mattar, 2007) a partir de um modelo de psicoprofilaxia do ciclo gravídico puerperal, que consistia em uma técnica para diminuição da dor do parto, por meio de condicionamento pavloviano (Lamaze, 1956 apud Maldonado, 2017).  A proposta de Fátima Bortoletti (Bortoletti et al., 2007) para o Pré-Natal Psicológico é o de atendimento às gestantes, casais grávidos e familiares do casal, visando oferecer acolhimento e orientação psicológica e preventiva às alterações emocionais significativas próprias desse período, ou evitar a sua cronificação no pós-parto.

Não existe um modelo único para a realização do pré-natal psicológico, o psicólogo tem autonomia para organizar os encontros com cada grupo, o número de encontros, sua duração e a periodicidade vão depender dos objetivos que se pretende alcançar com cada grupo. Em 2019 foi promulgada na Câmara Legislativa do Distrito Federal a Lei nº 6.256, de 18 de janeiro de 2019, a qual instituiu a política de diagnostico e tratamento da depressão pós-parto na rede pública e privada de saúde.  Essa política abre um maior espaço para a atuação do Psicólogo Perinatal na rede pública de saúde do Distrito Federal e, com isso, novas possibilidades de que essa lei possa também se tornar Federal.

 Portanto, a Psicologia Perinatal é uma área recente em nosso país e está em processo de expansão, teve início na década de 70 com Maldonado, década de 80 Bortoleti, década de 90 Iaconelli e mais recentemente outros nomes como Profª. Drª. Rafaela Schiavo e Profª. Drª. Alessandra Arrais, que além de publicarem estudos científicos para a área, também realizam conferências e cursos presenciais e online para formação de novos profissionais. Cursos de especialização também passaram a existir no Brasil no ano de 2018, permitindo a expansão e capacitação de mais profissionais para o atendimento clínico, hospitalar e nos serviços de saúde e saúde mental.

 

Referências:

 

Bortoletti, F. F., Moron, A. F., Bortoletti Filho, J., Nakamura, R. M., Santana, R. M., & Mattar, R. (2007). Psicologia na prática obstétrica: abordagem interdisciplinar. Barueri: Manole.

Maldonado, M. T. (2017) Psicologia da gravidez: gestando pessoas para uma sociedade melhor. São Paulo: Ideias & Letras.

 

Texto: A expansão da psicologia perinatal no Brasil

Autoria: Rafaela de Almeida Schiavo (Universidade Paulista, Bauru, SP)

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