SBP Sociedade Brasileira de Psicologia

4 dicas para ajudar empreendedores a separar vida pessoal e trabalho

Ter tempo para cuidar de si mesmo é fundamental para manter uma boa saúde mental

Maria Clara Vieira, Revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios
01 MAR 2022

Só quem tem o próprio negócio sabe quão desafiador é se desligar do trabalho. Para a maioria dos empreendedores, final de semana não é sinônimo de descanso: normalmente, as preocupações e assuntos profissionais permeiam toda a rotina, a qualquer dia ou momento, sem respeitar horários. "Com a transformação digital e o avanço tecnológico vieram as perdas de fronteiras. Hoje existe a cultura do trabalho em qualquer lugar, a qualquer hora. Isso fez com que o tema da saúde mental se tornasse uma prioridade", diz a psicóloga Ana Carolina Peuker, membro da Sociedade Brasileira de Psicologia, diretora da Associação Brasileira de Qualidade de Vida e CEO da Bee Touch, startup de saúde mental.

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Mudanças na rotina podem ser necessárias para evitar o excesso de trabalho (Foto: Reprodução Unsplash)
 

Outro ponto importante é que no atual cenário socioeconômico sequer chega a ser uma opção desligar-se do próprio negócio para descansar e ter tempo consigo mesmo. "Há grupos bem diferentes de empreendedores. Os menores e aqueles que estão na informalidade empreendem por necessidade e não por opção. São casos em que a sobrevivência manda, e não a qualidade de vida", explica Guilherme Fonçatti, psicólogo do Serviço de Orientação Profissional do Instituto de Psicologia da USP. "Essas pessoas trabalham muito, o quanto for suficiente para sobreviver. Nesses casos, a dica é participar de algum coletivo onde possa compartilhar suas questões. Também vale se conectar a uma cooperativa, por exemplo, ou a um grupo de pessoas com quem possa trocar experiências sobre as dificuldades do dia a dia. Costuma aliviar um pouco", diz Fonçatti.

É preciso ressaltar também que o cenário pandêmico contribuiu para o agravamento da situação de muitas empresas nos últimos tempos, o levou a um maior desgaste da saúde mental dos empreendedores. "A crise, somada à hiperconectividade, aumentou a carga de estresse, porque foi preciso manejar muitos problemas que iam além dos negócios: adoecimento, medos e incerteza em relação ao futuro", lembra Peuker.

Esgotamento total

Por mais difícil que seja reconhecer isso, acredite: o excesso de atividades e trabalho pode trazer consequências muito custosas. Não acontece do dia para a noite, mas o fato é que uma rotina extremamente desgastante e sem momentos de relaxamento pode levar a quadros como ansiedade e burnout.

"A principal causa do burnout é social: a cultura do mundo do trabalho, a pressão por resultados, o aumento da intensidade e das horas trabalhadas e o aumento do controle sobre o trabalho são os pontos principais", esclarece Fonçatti. "O indivíduo que sofre com burnout tem sintomas variados, como cansaço físico e mental, insônia, perda ou aumento de apetite, perda de sentido no trabalho e às vezes até na vida. O quadro pode melhorar quando tira férias, mas assim que volta à rotina, os sintomas reaparecem", diz o psicólogo. Como o burnout não melhora apenas descansando, é fundamental que a pessoa repense sua lógica e cultura de trabalho. Somente fazendo alterações e novas escolhas a situação mudará de fato.

Já a ansiedade decorre do senso de urgência da pessoa. E a hiperconectividade no trabalho colabora com isso. "Cada vez que o smartphone exibe um sinal luminoso ou alerta, existe um mecanismo cerebral de recompensa que é atraído, como se cada nova notificação fosse uma novidade que precisamos acompanhar. Somos programados do ponto de vista filogenético para o que é novo e não para o que é importante. Isso nos faz ficar em alerta permanente com os gadgets, o que gera uma demanda tensional, com liberação de cortisol, o hormônio do estresse", explica Peuker. O excesso de cortisol de maneira contínua afeta o organismo de diversas formas, como problemas gástricos e irritação.

Dicas para separar vida pessoal e trabalho:


1. Filtre o que o é urgente de verdade
Saiba ponderar e separar o que é urgente do que é apenas importante. Às vezes tratamos como urgente situações que não o são. Nem tudo precisa ser resolvido de maneira imediata. Será que você precisa mesmo enviar um e-mail de trabalho tão tarde da noite? Ou mandar um áudio no grupo do trabalho no final de semana? Reflita sobre o que de fato precisa ser resolvido com pressa.

2. Saiba seu limite
Aprenda a reconhecer seus limites. Diga "não" quando for necessário. Dê o exemplo e estabeleça na sua empresa um conjunto de boas práticas que ajude todos os funcionários a se desligarem também.

3. Mude o estilo de vida
Tente incluir na rotina momentos que são só seus, para cuidar de si mesmo. Pode ser um exercício físico ou um hobby, por exemplo. Mas se lembre de que se trata de descompressão. Não adianta estabelecer metas, desafios e deadlines nessas atividades porque aí a lógica da produtividade que existe no trabalho entra em cena novamente. Lembre-se de passar tempo de qualidade também com família e amigos para relaxar, conversar sobre assuntos diversos e desconectar dos negócios.

4. Busque ajuda profissional
Se as demandas e pressões de seu negócio estão causando sofrimento psicológico, procure um especialista. A psicoterapia por si só costuma ajudar muito. Em alguns casos, quando é detectada alguma situação mais grave, a intervenção médica pode ser necessária para aliviar sintomas.

 

 

Link da matéria na integra:
https://revistapegn.globo.com/Empreender-na-pratica/noticia/2022/03/4-dicas-para-ajudar-empreendedores-separar-vida-pessoal-e-trabalho.html

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